quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

o género e os livros

as questões de género e a procura de equidade estão muito longe de estar resolvidas. entrámos no séc. XXI muito mais esclarecidos e informados, mas o que realmente se coloca aqui em causa é de que forma passou essa informação e de que forma estamos a lidar com ela.
encontrei por essas redes sociais a referência a um novo "movimento", ou, na verdade, um hashtag, a nova forma de movimento cibernético. falava-se de #readwomen2014. procurei o artigo e encontrei-o aqui, no The Guardian. este artigo referia um estudo, este, levado a cabo pelas Women in Literary Arts, que referia a discrepância ainda existente entre mulheres e homens no mundo da edição.
vamos então, primeiro, aos factos. há mais homens a escrever, desde sempre. isso deve-se, no meu entender, a questões históricas em primeiro lugar, porque até há (demasiado) pouco tempo esse não era, culturalmente e socialmente, o lugar da mulher. depois ainda vivemos num mundo, e desenganemo-nos se pensamos o contrário, em que a mulher chama a si mais funções quotidianas quando vivem em família e em comunidade, ainda se dedicam mais aos filhos e à casa e essa tão desejada divisão de tarefas está a anos luz de ser uma realidade.
por outro lado os livros femininos são ainda estereotipados ao nível editorial se bem que aqui em Portugal, mais talvez do que na Inglaterra e nos EUA, por exemplo, isso já não seja tão marcante, as capas femininas (juntamente com a oferta de cachecóis, sacos brilhantes, entre outros) estão sobretudo ligadas a uma escrita de temas femininos que só por si, é já um apelo à discriminação. são livros que pretendem chegar a mulheres que insistem em manter-se nesse sítio dedicado às mulheres, erro de quem escreve, publica e lê. digo erro porque para mim esse mercado é um mercado a abater.
depois, mais difícil de ler e de atingir, temos então a discriminação ainda real e mais enevoada que afasta as mulheres da publicação e que liga as mulheres a má literatura (culpa desse mercado que disse que era para abater, têm aqui a razão). muitas vezes quando vendi livros tive dificuldade em vender uma rosa montero ou até uma carson mccullers por não acreditarem que poderia ser um bom livro.
portanto podemos concluir que há muito trabalho a ser feito. o que a Joanna Walsh faz neste artigo é lançar uma ideia. lermos livros de mulheres, fazermos o ranking mudar, percebermos como na nossa biblioteca também temos mais homens.
para mim esta ideia é perigosa e um verdadeiro tiro ao lado. o trabalho que tem de ser feito nas questões de género na literatura tem de ser muito mais profundo, a um nível mais trabalhoso. não se consegue atingir a equidade fazendo com que se leiam mulheres, porque são mulheres. eu leio mulheres e homens quando as mulheres e homens escrevem o que me interessa. se há menos mulheres a publicar pelas razões apresentadas a cima a minha biblioteca tem menos mulhers que homens. mas o problema não está aí, o problema está na formação de leitores e o que os leva a comprar ou não comprar um livro escrito por uma mulher. é nesse campo que os estudos de género têm de actuar. porque é tão grave não comprar um livro por ser escrito por uma mulher como comprá-lo por ser escrito por uma mulher. a intenção muda mas na base está o mesmo princípio - a discriminação. o trabalho tem de ser continuado até ao dia em que na cabeça de cada um o género não interessa e sim o livro em si. assim como em tudo, a leitura dos géneros é sempre uma realidade (porque eles existem e têm diferenças e essas diferenças não serão nem deverão ser diluídas) mas não um factor de decisão.
imagino que muitas pessoas que leiam este meu texto e os que apresentei a cima pensem que seja como for estou a ser chata, deixem lá a malta procurar livros de mulheres, mal não faz. o problema é que não gosto de soluções simplistas. é preciso pensar sempre as questões em profundidade para sermos certeiros. pode demorar mais tempo e ser muito mais complicado, mas acredito que poderá ser um caminho muito mais eficaz. 



terça-feira, 28 de janeiro de 2014

palavra do dia

Só o homem nu, absurdamente nu, capta e transcende nele o absurdo, ao reconhecer, no verdadeiro riso e nas verdadeiras lágrimas, a gigantesca aldrabice que lhe inculcavam como autoridade.
Ernesto Sampaio
Luz Central


é possível colocar o absurdo em dois lados diferentes. não opostos (se é que há disso, lados opostos). por um lado o absurdo como o que não é da razão. por outro o absurdo como o que não é da razão. a palavra do dia podia assim ser a razão, uma vez que o absurdo tem os seus opostos em espelho apenas dependente do conceito de razão.
a razão não fecha em si própria qualquer tipo de valor. não existe sem ser em forma de acção sobre o objecto. nessa acção podemos então perceber o ponto em que a razão passa a ser perniciosa.
está então em aberto a definição de absurdo. o absurdo é a ausência de razão. a razão é o um não lugar ou o lugar onde possivelmente nunca saberemos se queremos habitar.
eu prefiro habitar o absurdo.


o priberam volta assim a ser tendencioso.

absurdo
o contrário de autoridade
o contrário de consciência
o mesmo que o amor
 


ab·sur·do

adjectivo
1. Contrário ou repugnante à razão.

substantivo masculino
2. O que contrário à razão, à sensatez, ao bom senso.
3. Qualidade do que é absurdo.
4. Despropósito, insensatez, disparate.

"absurdo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/absurdo [consultado em 28-01-2014].

poeminhas

acabei e receber um mail dos chupistas da Chiado Editora para publicar um poeminha meu. sim, vou usar diminutivo porque não há outra formulação possível quando me dizem que o tal poeminha só pode ter trinta versos. versos. o meu poeminha tem de ter trinta versos.
hesito perante tal e-mail. penso se a minha conta bancária permitirá tal aventura pelo mundo das publicações, uma vez que não estou abonada de dinheiro para andar a pagar tais oportunidades. pois eis se não quando o dito senhor, perdão, editor me diz "aos Autores antologiados não será solicitada nenhuma contrapartida para a participação na obra nem serão ofertados exemplares da mesma."
alvísseras! fui descoberta. lancem a passadeira vermelha. lancem foguetes. que bonito. um poeminha.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

palavra do dia

no sentido oposto da intenção, da procura, do efémero, do trabalho
antónimo de fim, enquanto fim esvaziador
antónimo de esquecimento
o mesmo que retirar o necessário, o maquinal, o decorado
o mesmo que reconhecimento
o mesmo que distância

o mesmo que silêncio


"serás a minha marca"


marca
acto ou efeito de marcar
1. (sXIV) traço, sinal, impressão deixada por alguém ou algo, acidentalmente, ou como resultado de escarificação intencional na pele.
8. sinal ou qualquer coisa para avivar a lembrança a respeito de algo, ou que serve para reconhecer ou encontrar uma outra coisa
11. fig. traço distintivo por que se reconhece alguém ou algo
13. fig. expressão reveladora de sentimentos, tendência ou estado físico ou mental
14. fig. impressão, efeito de uma causa qualquer sobre o espírito, sobre os sentimentos
17. posto ou linha de partida numa pista de corrida atlética

via dicionário Houaiss

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

boris vian


chegou hoje pelo correio. apenas posso dizer que a treze dias do ano de dois mil e catorze este livro vem testemunhar que este é o ano do regresso e efectivação do meu querido espectáculo do Boris Vian. Yeeeeeah!! ganda malha.
aos que duvidam de mim, deste tão atrasado projecto apenas quatro palavras e três entre parentesis seguido de um ponto final: têm razão em duvidar (sou uma fraude).

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

As aventuras de Guille e Belinda e o enigmático significado dos seus sonhos

há realmente momentos espatafúrdios de quotidianos em que, sem estarmos à espera, levamos uma chapada ou um murro no estômago, vá, o que emocionar mais. este livro foi um deles. sacana. é tão bom. é em tudo incrível mas o mais fascinante é o trabalho que a nossa imaginação tem de fazer e acrescentar ao livro.
a descrição do PÚBLICO: "Esta é a história de Guille e Belinda, duas primas e amigas que cresceram juntas numa pequena povoação fora de Buenos Aires, na Argentina. Através das imagens, acompanhamos os longos serões estivais de brincadeira e deambulação repletos de imaginação, espontaneidade e amizade, mas também os sonhos, fantasias e medos típicos da transição da infância para a idade adulta. A fotógrafa americana Alessandra Sanguinetti deu início ao projecto quando Guille e Belinda tinham ainda 9 e 10 anos de idade, em 1999, e continua a visitá-las e a acompanhar o seu percurso ainda hoje. O projecto já deu origem a dois fotolivros intitulados "The Adventures of Guille and Belinda and the Enigmatic Meaning of their Dreams" "


ver o livro aqui. 


There were always many visitors at Juana's, and most of them would sit silently sipping mate and leave without saying a word. Once every couple of hours a car would drive past,  or a man on horseback would ride by and tip his hat in salutation. The most regular visitors were her grown daughters Pachi and Chicha, who lived nearby with their own families. They'd come over with their youngest daughters Belinda and Guillermina, and chat as they prepared sweet fried bread and sipped mate. Beli and Guille were always running, climbing, chasing chickens and rabbits. Sometimes I'd take their picture just so they'd leave me alone and stop scaring the animals away, but mostly I would shoo them out of the frame.  I was indifferent to them until the summer of 1999, when I found myself spending almost everyday with them. They were nine and ten years old then, and one day, instead of asking them to move aside, I let them stay.
Alessandra
July, 2009






 

Cruzeiro Seixas no Congresso Internacional Surrealismo(s) em Portugal



do muito que se disse isto é o que fica de fundamental. porque quem faz não tem de falar sobre isso e se querem saber do surrealismo têm de ler os textos. cruzeiro seixas diz isto tudo e significa muito mais. percam, por favor, estes 25minutos. imprescindível.


domingo, 5 de janeiro de 2014

esclarecimento face a uma reclamação de uma voluntária do LEVA - ler e voz alta (www.leremvozalta.org)

Caros voluntários e leitores,
o LEVA recebeu uma reclamação de uma voluntária e creio que se impõe um esclarecimento público para esclarecer a posição do LEVA bem como deixar claro todo o processo que nos trouxe à forma como hoje funcionamos.
O LEVA surgiu em Agosto de 2012 com o plano de, a partir de trabalho voluntário auto-proposto, oferecer a custo zero audio-livros a todos aqueles que não pudessem, por várias razões, aceder ao livro físico estando por isso em desvantagem numa realidade em que o mercado do audio-livro é absurdamente diminuto (apesar da sua grande qualidade) e portanto esses leitores estariam sempre em desvantagem face a quem não tivesse essa limitação. Foi lançada a ideia que foi também apoiada por alguma visibilidade na comunicação social o que facilitou a oferta bastante grande de voluntários. A maioria desses voluntários são leitores, depois temos os técnicos em menor número, e depois várias outras categorias – estúdios profissionais, a designer que fez a imagem,o programador do site, alguns autores e editoras que ofereceram direitos, seja espontaneamente seja contra pedido.
O que tem faltado no LEVA são encomendas. Tenho contactado empresas e instituições, tenho contactado particulares, fizemos o site e o facebook, espalhámos a palavra. Ainda assim as encomendas rareiam. Tivemos apenas duas encomendas que incluíam alguns livros e foi aí que todos os voluntários foram contactados, após termos conseguido o apoio das editoras que infelizmente não se verificou para a totalidade da encomenda. Escolhemos os voluntários e para esta encomenda o critério escolhido foi aceitar leitores que se tivessem oferecido com técnicos uma vez que havia alguma pressa na realização das gravações. Claro que ficou decidido que na próxima encomenda o critério seria outro e os voluntários que gravaram estes livros não estariam no topo da lista para dar oportunidade a outros. Essa segunda encomenda ainda não se verificou.
A reclamação vem no seguimento de um post no facebook que fala da necessidade / vontade de mais voluntários após alguns deles terem ficado sem livro atribuído nessa primeira e única encomenda. A razão para o ter feito prende-se com diversas razões, a saber:

  • havendo mais voluntários pelo país pode aparecer oportunidade de juntar um técnico de uma determinada cidade com um leitor que já lá esteja permitindo assim descentralizar o projecto das grandes cidades, nomeadamente Lisboa
  • os voluntários podem oferecer-se para outras actividades que não a leitura – como exemplo já tive voluntários que se ofereceram para contactar empresas e marcar reuniões ou para fazerem a ligação com meios de comunicação
  • queremos que o LEVA cresça e tenha cada vez mais encomendas. Só com o esforço de todos na divulgação e participação activa o poderemos conseguir, daí que o corpo de voluntários aumentar, logo aumentar o envolvimento das pessoas no desenvolvimento de um projecto que pode ser muito maior do que é, é sempre positivo

A dita reclamação falava também das expectativas criadas nos voluntários. As expectativas são de todos. Quando criei o projecto em 2012 não imaginei que tivéssemos tão poucas encomendas. No entanto estamos todos no mesmo barco e creio que as expectativas que nunca poderemos deixar goradas são as dos nossos leitores, que nos encomendam livros, o que acredito que não tem acontecido, graças ao trabalho de todos. Este projecto é nosso, meu e dos voluntários, e o nosso trabalho e vontade é de os ajudar juntando esforços, criando ideias, pensando em conjunto. Se queremos fazer mais, e sei que se todos o sentirem teremos aqui um grupo muito forte, vamos em conjunto, de forma construtiva, pensar em como poderemos fazer este projecto crescer e não esperar que cresça sozinho. 
A dita voluntária abandonou o projecto por vontade própria. Fica a vontade que tal força e dinâmica possam ser aproveitadas para outros projectos.
A reclamação falava também da falta de organização por ser uma única cabeça à frente do projecto. Aqui, e apenas aqui em nome pessoal, vos digo que desde que comecei o projecto até hoje que não o faço de forma diminuída ou desorganizada mesmo com as naturais adversidades que surgem, porque não sei trabalhar pela metade e tento nunca o fazer. O trabalho conjunto tem permitido que essa minha vontade se mantenha realizável. O que na reclamação surgia como desorganização é apenas a forma escolhida para levar o trabalho avante. Se não concordarem com o método poderemos trabalhá-lo através da construção, em conjunto, de métodos alternativos. 
Quanto aos outros voluntários deixo aqui a minha vontade em ouvi-los, esclarecer as questões que possam ter, pedir toda a ajuda e colaboração no desenvolvimento deste projecto ainda tão recente, sobretudo ao nível das ideias que nos possam fazer ter mais encomendas.
Todos gostávamos que este projecto estivesse a chegar a mais gente. Só nos sobra fazer por isso. Redobro o meu agradecimento a quem o faz comigo, diariamente, no LEVA. Espero poder chegar a todos, um dia. Era apenas sinal que teríamos chegado a mais leitores, de forma mais global e mais eficaz.

Reitero como sempre reiterei a minha total disponibilidade e abertura para esclarecimentos. Os meus contactos estão todos no site www.leremvozalta.org.
Um bem haja a todos,

rosa azevedo

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

curso com novas datas, inscrições abertas



Pó dos Livros // podoslivros@gmail.com // 217 959 339
Av. Marquês de Tomar, Lisboa

4as feiras de Fevereiro' 14
21h
35€ (descontos estudantes e desempregados)