sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Curso de Literatura Portuguesa séc XXI

2ª feira
19h às 20h
de 20 de Março a 17 de Abril (5 sessões)
50€
(40€ para grupos de mais de cinco pessoas, estudantes e desempregados)


Falar sobre literatura contemporânea é apenas uma forma de partilhar leituras. Não há forma de nos apoiarmos nos anos que passam sobre esta escrita, não há cânones, história, preconceitos. Não há filtros. Estamos sempre perante uma visão de uma literatura que muito longe de estar terminada está não só em crescimento como em profunda transformação.
É um imenso privilégio sabermos acompanhar a literatura no momento em que ela acontece. Com tudo o que isso implica, a responsabilidade de estarmos a viver a história da literatura juntamente com a possibilidade de nos obrigarmos a mudar de rumo enquanto leitores ou apenas de nos deixarmos surpreender.
Este curso pretende abrir o leque de possibilidades de leituras, reflectindo sobre o que é escrever hoje numa sociedade mais imediata, mais informada, numa época em que publicar é mais fácil, em que a escrita se democratizou, obrigando-nos a ser mais criteriosos e exigentes. Vamos falar dos autores que estão no circuito comercial, dos que sofrem por ele, dos que lhe são parasitas e dos que apenas lhe são indiferentes. Vamos também falar de livros, editores, movimentos, ideias e vamos ler, pensar, discutir, num curso que é muito mais um sítio onde a partilha de leituras dita o caminho da conversa.



lista preliminar de autores:
Afonso Cruz, Alexandre Andrade, Marta Navarro, José Miguel Silva, Claudia R Sampaio, António Cabrita, Miguel Manso, Manuel de Freitas, Andreia Faria, Sandra Andrade, Daniel Faria, Helder Moura Pereira, António Franco Alexandre, Herberto Hélder, Gonçalo M. Tavares, Daniel Jonas, Vasco Gato, Valério Romão, entre outros.


 
inscrições para rosa.b.azev@gmail.com ou geral@leituria.com

sábado, 11 de fevereiro de 2017

pedido de ajuda . Literatura Portuguesa do Séc XXI

Há alturas em que o caminho do trabalho segue outros caminhos e outras lógicas muito mais improvisadas do que pensamos inicialmente. Depois de anos a dar cursos sobre a literatura do século passado agora é altura de falar de hoje, do que se faz e escreve, pensar nos porquês, nos caminhos, nas editoras, nos poetas. Sempre do único ponto de vista que interessa, o da leitura. 

Tenho até à primeira sessão (novidades em breve) perto de um mês para juntar toda a informação em falta, daí pedir a vossa ajuda. Falar sobre o que se passa hoje é arriscado, volátil, duvidoso, temperamental. Não há forma de nos apoiarmos nos anos que passam sobre esta escrita, não há cânones, história, preconceitos. Não há crivo nem filtros. É um salto no escuro para mim que falo mas muito maior para quem ouve e assiste ao curso, que acompanha a minha visão de leitora, mais pessoal, em directo, no momento em que a literatura acontece. Como sempre este curso é virado para a visão do leitor, abrindo o leque e dando à escolha vários caminhos e interpretações desse mesmo leque. Vamos em conjunto aprender a posicionarmo-nos perante uma escrita que muito longe de estar terminada está não só em crescimento como em profunda transformação. 

Gostava por isso de vos pedir textos, opiniões, recensões que tenham escrito / lido sobre esta literatura de hoje. Pode ser do ponto de vista literário ou sociológico. A melhor forma de pegar na literatura de hoje é através do diálogo e troca de experiências de leitura. 

É importante referir que este curso tem o seu início em 1980. Foi este fim de século que desenhou o séc XXI. A literatura não se coloca em categorias nem na história, constrói-se organicamente enleada em si mesma em constante transformação. 

Enviem-me assim toda a informação que tenham sobre este tempo dos livros. Em breve disponibilizo lista de autores, temas, dias, hora e local. Podem enviar-me para o mail rosa.b.azev@gmail.com. A todos um grande obrigada!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

o caminho de um livro

 A minha avó sempre gostou de ler, já aqui falei dela. Mostrou-me livros, ofereceu-me alguns. Mas desde que me lembro dela, desde que nasci, que já não lia muito. Era o meu avô que lia mais. Mas foi ela quem manteve uma estante na sala onde eu e o meu irmão crescemos, onde passávamos as tardes todas, onde fomos voltando ao crescer, ao lado do sofá onde eu me sentava a conversar com ela das últimas vezes que a fui ver. Há pouco tempo a minha avó foi para um lar. A memória foi-se deteriorando nos últimos anos, os livros já tinha largado há muito, depois largou as revistas, depois a televisão. A memória foi-se torcendo, misturando, falamos com ela sem saber com que avó estamos a falar. E no outro dia disse-me que um dos piores aspectos do sítio onde estava era não ter tranquilidade para ler os livros dela. Livros que há muito tempo não lê mas tempo que para ela não tem a mesma dimensão que para nós.

No outro dia, com umas mudanças que fizemos em casa dela, fiz o exercício de olhar para as estantes da sala. Reconhecia todas as cores, as formas, até as texturas. Mas não os títulos. E eu que tinha construído a minha vida à volta dos livros percebi que aquelas lombadas não eram para mim livros como estes que falo. Eram a estante da minha avó, a sala da minha avó, a casa da minha avó, a rua dela.  

Ao passar os olhos reparei em vários livros do Erskine Caldwell. Não estranhei o nome, mas não o reconheci. Pesquisei um bocado e percebi que estava na linha dos meus mais queridos autores, os mesmos de quem a minha avó me tinha falado tanto em pequena. Trouxe este pequeno livro para casa, andei com ele uns dias na mala e no outro dia abri-o. Isto porque de repente (o mundo às vezes tem destas coisas) várias pessoas me falavam do Caldwell, e da forma como ele era imprescindível. O livro já não era só o livro da minha avó era o livro dos meus amigos, dos leitores que tanto gostavam do livro.

Vi que tinha tradução e prefácio de Jorge de Sena e o prefácio acabava assim:

"O apelo neste caso toma a forma de uma voz de criança perdida na noite e implorando a toda a humanidade (de que o leitor, rindo-se dele, da família dele e dos que o rodeiam, faz parte integrante) que o deixe ser livre e conscientemente um homem. Ainda quando não concordamos com a afinação da voz, ou ela nos não pareça portentosa, é uma voz humanizada.
E se não é para assim nos ouvirmos uns aos outros que por aqui andamos, não se percebe muito bem porque seremos tantos e teremos voz".

E se calhar o livro nem era da minha avó, era do meu avô, ou do meu tio, ou do meu pai. Mas essa não é a história que eu conto deste livro. É a minha memória da avó humanizada.  E agora este é o meu Caldwell, porque se calhar a minha avó já nem se lembra do Caldwell e eu farei por me lembrar por ela.